quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sobre os eufemismos e disfemismos

Na fala nossa de todos os dias, é comum utilizarmos vários recursos linguísticos e extralinguísticos a fim de garantirmos a maior eficácia possível do nosso discurso.
Para isso, gesticulamos, fazemos caretas, exageramos coisas simples, pioramos ideias ruins ou amenizamos coisas pavorosas.
Ao amenizarmos ideias negativas, fazemos uso da figura de linguagem chamada eufemismo. 
O eufemismo faz parte do grupo das figuras de pensamento. O termo origina-se do grego eu- (agradável) + pheme (palavra).
São inúmeros exemplos que aqui poderiam ser colocados: "Você faltou com a verdade." (mentiu) ou "José enfim encontrou-se com o Criador." (morreu). São clássicos.

Ouvi um interessante nessa semana.  Um membro de minha família contando as histórias dos nossos antepassados, mandou esse: "(...) e então, Fulano de Tal teve que ser internado, pois estava com um probleminha de nervoso." Só um probleminha. E de nervoso... Tive que rir! E ri mais ainda, sabendo-se que a família é bem "nervosa"! 

Imagine você tendo um verdadeiro ataque de insanidade que só uma camisa de força  e mais cinco homens parrudos poderiam conter e alguém chega pra você e diz com toda a mansidão possível: "Caaalma, caaalma... Você está muito nervosa..." Affff...

O nervosismo propriamente dito misturado ao medo pode provocar algumas reações involuntárias no nosso organismo: sudorese excessiva, vermelhidão, taquicardia entre outras. Também pode provocar micção e tenesmo involuntários. Micção? Tenesmo? O que é isso? Falando o português claro, trata-se de urinar e defecar sem querer. 

Aí é que entram os disfemismos. O Disfemismo ou Cacofemismo serve para piorar mais ainda certas coisas ou ideias não muito agradáveis. "Tirar água do joelho" e "Dar uma barrigada". Clássicos.  Não precisam de tradução.

Assistindo a um programa humorístico, ouvi o cara dizer: "Descarregar uma betoneira no banheiro". Nossa! 

Irresistível. Morri de rir. Usando hipérbole!

sábado, 8 de março de 2014

Dia Internacional da Mulher



Hoje é um dia para ser comemorado sim. Embora todos os dias sejam dia de mulher, é importante lembrar que a data é um marco histórico de luta por melhores condições de vida e de trabalho e que essa luta ainda não terminou.
Lutamos contra a violência, contra a desvalorização profissional e baixos salários.
Lutamos para sermos valorizadas em todos os sentidos; em casa, no trabalho, na escola, em nossos relacionamentos afetivos.
São muitas as lutas do nosso dia-a-dia, grandes ou pequenas, mas somos vitoriosas, pois como diz o Erasmo Carlos em sua canção: "Dizem que a mulher é o sexo frágil/Mas que mentira absurda..." 
Homens são fortes, mas não chegam aos nossos pés!

E como homenagem, deixo uma postagem feita em outro blog da música Rosa, de Pixinguinha. 
Nem precisa dizer a metáfora existente entre uma mulher e uma rosa!

Rosa 

Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouço confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer 


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Boca de fumo

Nos últimos tempos, tornou-se fato comum eu dormir no meio dos filmes aos quais assisto. Tento assistir mais umas três vezes e sem sucesso, conseguindo somente lá na quarta tentativa. Essa persistência só se deve ao fato de haver algo bastante interessante no enredo desses filmes.

Assistindo ao filme brasileiro Boca (2010), de Flavio Frederico, também dormi, mas algo chamou-me a atenção e levou-me a refletir sobre uma questão linguística interessante. 

O filme é inspirado na autobiografia de Hiroito de Moraes Joanides, o Boca. Sua alcunha era O rei da Boca, segundo os jornais da época ( por volta de 1960). Com uma ficha policial de 20 metros, Boca reinava no submundo do crime, da prostituição e do tráfico de drogas na Boca do Lixo, região central de São Paulo. 

Então, naquela época, quando alguém queria comprar maconha, cocaína ou bolinhas, possivelmente dizia: 
" _ Vou lá na Boca... "

Com o decorrer do tempo, o termo "boca" passou a designar qualquer local em que se é possível obter drogas ilícitas, as "bocas de fumo". 

Pesquisei aqui na net e não encontrei nenhuma fonte que comprove esse raciocínio. 
Mas faz total sentido.


faz muito sentido. 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ser professora de Português





01 - Professora de português não nasce; deriva-se.

02 - Professora de português não cresce; vive gradações.

03 - Professora de português não se movimenta; flexiona-se.

04 - Professora de português não é filha de mãe solteira; resulta de uma derivação imprópria.

05 - Professora de português não tem família; tem parênteses.

06 - Professora de português não envelhece; sofre anacronismo.

07 - Professora de português não vê tv; analisa o enredo de uma novela.

08 - Professora de português não tem dor aguda; tem crônica.

09 - Professora de português não anda; transita.

10 - Professora de português não conversa; produz texto oral.

11 - Professora de português não fala palavrão; profere verbos defectivos.

12 - Professora de português não se corta; faz hiato.

13 - Professora de português não grita; usa vocativos.

14 - Professora de português não dramatiza; declama com emotividade.

15 - Professora de português não se opõe; tem problemas de concordância.

16 - Professora de português não discute; recorre a proposições adversativas.

17 - Professora de português não exagera; usa hipérboles.

18 - Professora de português não compra supérfluos; possui termos acessórios.

19 - Professora de português não fofoca; pratica discurso indireto.

20 - Professora de português não é frágil; é átona.

21 - Professora de português não fala demais; usa pleonasmos.

22 - Professora de português não se apaixona; cria coesão contextual.

23 - Professora de português não tem casos de amor; faz romances.

24 - Professora de português não se casa; conjuga-se.

25 - Professora de português não depende de ninguém; relaciona-se a períodos por subordinação.

26 - Professora de português não tem filhos; gera cognatos.

27 - Professora de português não tem passado; tem pretérito mais-que-perfeito.

28 - Professora de português não rompe um relacionamento; abrevia-o.

29 - Professora de português não foge a regras; vale-se de exceções.

30 - Professora de português não é autoritária; possui voz ativa.

31 - Professora de português não é exigente; adota a norma padrão.

32 - Professora de português não erra; recorre a licença poética.