segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Hilda Hilst

Em 10 de abril do ano de 2004,  a Literatura perde uma das maiores escritoras em Língua Portuguesa: a poeta, escritora e dramaturga Hilda de Almeida Prado Hilst. Mulher de raríssima beleza, era admirada por empresários, artistas e poetas, inclusive Vinicius de Moraes. Suas obras também inspiraram músicos e compositores. Recebeu importantes prêmios literários.


Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.



Enquanto faço o verso, tu decerto vives. 
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue. 
Dirás que sangue é o não teres teu ouro 
E o poeta te diz: compra o teu tempo 
Contempla o teu viver que corre, escuta 
O teu ouro de dentro. 
É outro o amarelo que te falo. 
Enquanto faço o verso, tu que não me lês 
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala. 
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas: 
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”. 
Irmão do meu momento: quando eu morrer 
Uma coisa infinita também morre. 
É difícil dizê-lo: 
MORRE O AMOR DE UM POETA. 
E isso é tanto, que o teu ouro não compra, 
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto 
Não cabe no meu canto. 


 Hilda Hist

Nenhum comentário:

Postar um comentário